sábado, 21 de abril de 2012

Guimarães Rosa- MESTRE DA LITERATURA

                                        

                       Guimarães Rosa- MESTRE DA LITERATURA.

                             “O sertão que virou poesia e a poesia que virou sertão”.

 João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908, na cidade de Cordisburgo (MG), filho do comerciante Florduardo Pinto Rosa (seu fulô), caçador de onças e contador de estórias e de Joanita Francisca Guimarães Rosa (dona Chiquitita) como era conhecida.
 Foi médico, soldado, poeta e escritor, fez e faz parte do modernismo brasileiro, não em querer mudar a sua época ou ser contra a evolução pólitica-social do seu povo; foi moderno por ser irreverente e radical dono de um estilo único e pessoal de narrativa.
 Três experiências formaram o mundo interior deste escritotor: médico, escolhendo o valor místico do sofrimento, rebelde devido o valor da consciência e soldado por valor da proximidade da morte.
Guimarães tinha o apelido de “Joãozito”, foi o primeiro de 06 irmãos, afirmava que não gostava muito de falar de sua infância, pois o que mais se lembrava era do entra e sai de pessoas da sua casa, “por seus pais serem comerciantes”.
 Seu pai quando saia para caçar gostava de levá-lo, mas quando Guimarães percebia que Florduardo ia matar qualquer animal, gritava [papai!], até que um dia o mesmo percebeu e não levou-o mais.
Guimarães afirma que apartir desse momento a sua vida como poeta e escritor começava a florescer, onde o mesmo trancava-se em seu quarto deitando no chão e começando a pensar em estórias, versos e romances, colocando todos que conhecia como personagens.
Com apenas 06 anos já lia em Francês, logo depois aprendeu Holandês e então, em 1918 seu tio avô e padrinho “ Luís Guimarães”, levou-o para Belorizonte para continuar seus estudos, passando assim a estudar no colégio Santo Arnaldo em Minas Gerais de origem Alemã, junto de Carlos Drummond de Andrade e outros.
Guimarães passou a frequentar constantimente a biblioteca da cidade aumentando ainda mais a sua paixão por livros e seu prazer pela leitura. Foi colecionador de incetos e borboletas até os 14 anos de idade, por ser um profundo conhecedor da história natural.
Em 1925, com apenas 16 anos, matriculou-se na então Faculdade de Medicina da Univerrside de Minas Gerais, mas continuou estudando línguas, pois o mesmo era um “poliglota nato”,  falando fluentemente Francês, Holandês, Alemão, Sueco, Latim, Grego, Polonês, Árabe, Tupi e Hebraico, ao total era conhecedor de vinte idioma. Na escola de Medicina ele escrevia contos e discursava para ganhar dinheiro, mas ainda não tinha o traço de Guimarães Rosa.
 Em 27 de julho de 1930 casou-se com Lígia Cabral Pena, de apenas 16 anos, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda nesse ano formou-se e passou a exercer a profissão de médico em uma cidadizinha de Minas Gerais do interior de Itaguara, só para não exercer medicina com concorrência. Mas, foi nessa localidade que passou a ter contato com os elementos do sertão que, mais tarde iria servir de referência e inspiração a sua obra (Grande Sertão: Veredas).
De volta da Cidade de Itaguara, dois anos depois em 1933 serviu como médico do 9º batalhão de Infantaria da Polícia Militar. Um ano depois prestou concurso para o Itamarty no Rio de Janeiro, obtendo a sua aprovação em segundo lugar, onde passou alguns anos da sua vida como diplomata na Europa e na América Latina.
No início da carreira diplomática exerceu como primeira função no exteriror, o cargo de “Consul Adjunto do Brasil em Hamburgo na Alemnaha” de 1938 a 1942. Nesse período Guimarães, conhece a sua segunda mulher “Aracy de Carvalho”, ambos ajudaram muitos Judeus a sairem da Alemanha na época da guerra. Por esta ação o Estado de Israel homenageou a Guimarães e sua esposa Aracy de Carvalho, que trabalhava na época da guerra concedendo vistos. A Alemanha repatriaria ambos para o Brasil, mas nesse momento o Brasil declara guerra ao País e Guimarães fica impedido de voltar ao Brasil. Depois de libertado Guimarães volta para o Rio de Janeiro, ficando muito pouco tempo no Estado, seguindo logo para Bogotá como secretário da Embaixada onde fica até 1944.
No Brasil em sua segunda candidatura para a Acadêmia Brasileira de Letras, foi eleito por unanimidade em 1963. Temendo ser tomado por uma forte emoção, adiou a cerimônia de posse por quatro anos. Em seu discurso quando enfim decidiu assumir a cadeira da Academia em 1967, chegou a afirmar em tom de despedida como se soubesse o que se passaria ao entardecer do domingo seguinte: “...  A gente morre é para provar que viveu”, falece três dias mais tarde na Cidade do Rio de Janeiro em 19 de novembro de 1967 com 59 anos João Guimarães Rosa.
Se o laudo médico atestou um infarto - sua morte permanece um mistério inesplicável. Dizem que a resposta está em sua obra mais marcante – “Grande Sertão: Veredas” - intitulado por Guimarães como “ uma autobiografia irracional”, talvez a explicação esteja na travessia simbólica do rio e do sertão de Riobaldo ou no amor inexplicável dele  por Diadorim.

Além da obra “Grande Sertão: Veredas” que, tornou-se um produto da Universalidade humana e um legado da Literatura Portuguesa em todo o mundo, o escritor e poeta retém a minha atenção na obra “Manuelzão e Miguelim”  porque é através dessa obra que ele retrata a sua infância. Observe a citação da estória e veja por quê faço esse preâmbulo:
“Miguelim vive no Mutum, região isolada e primitiva com sua família. O pai- Bernardo- é um homem rústico embrutecido e que se destrói; a mãe – Nhanina- é Frágil e insatisfeita; os irmãos- Dito, Chica, Tornezinho e Drelina, vivem felizes.
Nessa passagem está claro a infância de Guimarães, pois o seu pai era homem também rústico, forte e caçador de onças (...) Sua mãe era sensivel da mesma forma de dona Nhanina; ele era o primeiro de seis irmãos, da mesma forma que retrata a estória de “ Manuelzão e Migulim”. Por isso que afirmo que literatura é a transfiguração do real, realidade do artista (poeta) sendo recriada através do seu espírito e retransmitida através da língua para as formas que são os gêneros, com as quais toma novo corpo e nova realidade.
[ Afrânio Coutinho].
É assim que o poeta transmite aquilo que sente, a verdade que é mais verdade, que ele mesmo “a obra”, pois ali está atransfiguração da sua verdadeira realidade. “Massaud Moíses” também afirma que, literatura é a expressão dos conteúdos da ficção ou da imaginação por meio das palavras de sentido multiplo e pessoal.
 Deixo aqui as obras deste extraordinário poeta e escritor modernista, duas póstumo e as demais em vida.
 O Magma (1936) foi o primeiro prêmio literário de Guimarães, na verdade esse prêmio foi meio que renegado por ele, porque depois sentiu que poesia não poderia ser feita profissionalmente [de maneira formal]. Evidentemente que ele se referia ao formato de poema, “forma”. Pois o modernismo no Brasil foi antes de qualquer coisa um movimento contra os valores clássicos, [modo de fazer poesia dos Parnasianos].

Sagarana - João Guimarães Rosa Sagarana (1946) foi o primeiro  livro de Guimarães Rosa que, traz temas atrelado a vida rural (MG), que tem como Epígrafe " Lá em cima daquela serra, passa boi, passa boiada, passa gente ruím e boa, passa minha namorada". É quando realmente Guimarães vira Guimarães Rosa; livro que têm grandes contos e estórias interessantes; é uma boa entrada para conhecer Guimarães Rosa. É a estória pura de Cordisburgo, uma Cordisburgo bonita! Uma das estórias desse livro é “O burrinho Pedrês”.
   Grande Sertão: Veredas(1956)- foi um romance pensado inicialmente como uma das novelas do livro " Corpo de Baile", porém tornou-se um dos mais importantes livros da Literatura Brasileira e da Literatura Lusófona (Literatura escrita em língua portuguesa, que faz parte de várias expressões literárias nacionais).
 Em maio de 2002 " O Clube do Livro da Noruega", [Entidade que congrega Editores Noruegueses] elegeram 100 melhores livros de todos os tempos; a bancada de votação contava com "cem" escritores de "54 países". Grande Sertão:Veredas foi o único livro brasileiro a integrar a lista dos 100 melhores de todos os tempos do Clube do Livro da Noruega.
Livro que aborda várias interpretações sob vários pontos de vista. Guimarães era por natureza um ser inventivo, extremamente erudito, porém incorporou em sua principal obra aspectos das mais diferentes culturas, fazendo da sua mais importante obra um produto da universalidade humana.
 Inicialmente chama a atenção por sua dimensão- mais de 600 páginas- e pela ausência de capítulos. Guimarães fundiu nesse romance elemento do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática do regionalismo da segunda fase, para criar uma obra única e inovadora.
O foco narrativo está na primeira pessoa e os personagens principais desse romance é Riobaldo, Diadorim, Deus e o Diabo. Riobaldo é o narrador-protagonista, um fazendeiro rico que revive suas pelejas, seus medos, seus amores e suas dúvidas, morando as margens do São Francisco; conta sua trajetória de vida com acentos e jeitos sertanejos- uma inusitada invenção de linguagem, a um interlocutor que nunca se pronuncia a quem ele chama “Senhor” ou “Moço”.
Em sua narrativa, dos segredos das veredas, Riobaldo tece a história de sua vida. Ele Confronta as forças do bem e do mal, retomando num fluxo de memória o fio de sua vida, narrando às grandes lutas do bando de jagunços, descrevendo os feitos e características de diversos personagens, revelando os códigos de honra e de procedimento do sertão.
No meio de sua travessia surge a enigmática amizade e afeição por um companheiro de pelejas, com quem Riobaldo passou a dialogar e trocar confidencia. Diadorim é Reinaldo, filho do grande chefe Joca Ramiro, traído por Hermógenes. Diadorim era sério e calado, mas tinha feições finas, e queria vingar a morte de seu pai que, em sangrento duelo mata Hermógenes, mas é ferido mortalmente.
A notícia chega a Riobaldo e o mesmo é tomado por intensa dor, em desespero exclama: Meu amor! Diante do corpo desnudo a revelar o grande segredo do companheiro.
Após o trágico fim, Riobaldo adota um comportamento de devoção espiritual, orientado pelo seu compadre Quelemém. Casa-se com Otacília e torna-se proprietário ao receber duas fazendas de herança.

Edwilson Bezerra
Graduando em Letras pela FAMA
edwilson_bezerra@hotmail.com